sábado, 10 de novembro de 2012

DIZER COISA COM COISA




Há uma linguagem conexa, que liga as coisas e as idéias. E há uma desconexa, na qual uma fala não leva à outra, uma idéia não leva à outra. Para alguns compositores ou pregadores, desses que se ouve no rádio ou em templos, um monte de idéias ajuntadas parece poesia ou pregação. Para o povo não é. Não todos, mas boa parte do povo escolarizado quer explicação que mesmo que não pareça resposta o desafie a pensar.
Gravei dias atrás, com meu microfone portátil, do rádio do carro, uma música de uma dupla caipira, que mostrava sua mais recente composição. A música, segundo eles, estava por ser gravada. Em outras palavras, o que consegui captar, dizia:
“O Brasil é forte, pois não teme a morte. Pátria altaneira vibra na bandeira. Terra mais bonita e nação mais rica, não aconteceu. E o brasileiro já é o primeiro que se sucedeu. E o nosso canto que não tem quebranto mostra tanto quanto, o Brasil cresceu.”
Foi música feita para rimar. A segunda parte era ainda mais sofrida; dizia:
“ O Brasil é forte e mostra que o esporte nunca perde o jogo, mas foi destinado ao primeiro lugar. Povo glorioso, forte, sempre venturoso, seu sucesso é sempre multinacional.”
Mas logo após, gravei também a fala de um pregador religioso que comentando a missão de João Batista dizia:
“ O profeta João Batista usava roupa de pele de camelo porque desprezava as sedas da corte e porque, no deserto onde ele pregava, a seda só iria atrapalhar o seu desempenho. E comia gafanhoto e mel silvestre porque é um alimento que tem muita proteína.
E João se cuidava para cumprir bem a sua missão. Se comesse outro tipo de comida, não seria um profeta forte e ele precisava de energia para a vida que ele levava. Além do que, João tinha a missão de calar a boca do rei e da rainha porque os dois levavam uma vida suja. E o único que era capaz de jogar verdade na cara do rei e da rainha era o profeta João.
E por conta disso a Salomé dançou para agradar o Rei, mas no fundo ela queria seduzir o rei, para ele ficar bêbado e enfeitiçado com a beleza dela e, assim, o plano que ela tinha com a mãe Herodíades, de cortar a cabeça de João, iria dar certo. Por isso, elas transtornaram a cabeça do rei, enfeitiçado pelo sexo e pela bebida. E o rei acabou mandando num prato a cabeça do profeta.”
Sugiro a quem quer estudar a pregação religiosa, que sintonize alguns programas de rádio. Por um lado é democrático que qualquer pessoa possa tenha escolaridade ou não; tenha estudo ou não. Por outro lado é ousadia permitir que alguém sem conectividade faça uso da palavra diante de milhares de pessoas.
Você certamente não mandaria o seu filho a um cardiologista que nunca estudou cardiologia e, certamente, não deixaria que uma pessoa que nunca ergueu paredes, nem mexeu com cimento, construa a sua casa de dois andares. Então, não deveria ser permitido a pessoas que não tem um mínimo de nexo, falar para milhares de pessoas.
Para a maioria das profissões exige-se um mínimo de conhecimento, também deveria ser assim com relação à pregação religiosa. è assunto a ser estudado porque, entre tirar o microfone de quem não tem escola e dá-lo a quem tem, mas não tem moral, nem ética, não há o que escolher.

                                            Texto escrito poR/ Pe. Zezinho,Scj. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário